Obra de arte até na água |
8/11/2009 |
5ª Bienal VentoSul |
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O artista canadense Jean-Yves Vigneau está com sua obra “H2O” exposta sobre o lago da Ópera de Arame. As pessoas terão a chance de conhecer o trabalho do conceituado artista em um dos principais cartões postais de Curitiba até 11 de outubro. A obra de Jean-Yves Vigneau é composta por letras gigantes (7x2,4 metros) feitas de madeira em formato da fórmula da água que flutuam sobre o local. O objetivo do artista é que cada visitante tenha uma leitura pessoal da obra imersa no lago. A reflexão do público pode ser instigada pelo encontro da arquitetura metálica da Ópera de Arame com a arte contemporânea em madeira, representada pela equação H2O=$%?. Duas obras diferentes que se completam em um mesmo cenário. Vale a pena conferir. |
passou no metrópolis,
em marcela vieira,
em fred benevides,
Eriquetaaa
em caetano veloso,
quando eu passar por você
de cara alegre e cruel
feliz e mau como um pau duro
acendendo-se no escuro
cascavel
eriçada na moita
concentrada e afoita
eu já chorei muito por você
também já fiz você chorar
agora olhe pra lá porque
eu fui me embora
você nem vai me reconhecer
quando eu passar por você
em thaís de campos e ivo lopes araújo,
O longa metragem Praia do Futuro é uma produção de vários diretores cearenses que integram o coletivo Alumbramento Produções Cinematográficas: Guto Parente, Thaïs Dahas, Felipe Bragança, Fred Benevides, Ivo Lopes, Salomão Santana, Mariana Smith, Pablo Assumpção, Ricardo Pretti, Thaís de Campos, Themis Memória, Luiz Pretti, Rúbia Mércia, Ythallo Rodrigues, Armando Praça, Diogo Costa e Wanessa Malta. O filme é dividido em 15 episódios e a ideia é trazer ao público o olhar individualizado de cada diretor sobre uma das principais praias de Fortaleza, a chamada Praia do Futuro.
A obra foi produzida com recursos da própria Alumbramento, o filme tem nomes que tem se destacado em festivais pelo Brasil, como Ivo Lopes (do documentário Sábado à noite) e Felipe Bragança (co-roteirista e assistente de direção de O Céu de Suely). Trailers do filme podem ser assistidos na página da produtora no YouTube.
"Livro Livre"
matéria sobre o projeto:
em ana cristina césar,
Vamos tomar chá das cinco e eu te conto minha
grande história passional, que guardei a sete chaves,
e meu coração bate incompassado entre gaufrettes.
Conta mais essa história, me aconselhas como um
marechal do ar fazendo alegoria. Estou tocada pelo
fogo. Mais um roman à clé?
Eu nem respondo. Não sou dama nem mulher
moderna.
Nem te conheço.
Então:
É daqui que eu tiro versos, desta festa – com
arbítrio silencioso e origem que não confesso –
como quem apaga seus pecados de seda, seus três
monumentos pátrios, e passa o ponto e as luvas.
"Como rasurar a paisagem"
a fotografia é um tempo morto
fictício retorno à simetria
secreto desejo do poema
censura impossível
do poeta
em gina pane,
em sofi hemon,
em al berto,
Víamos - pelo lado menos sombrio do pensamento - todo o sistema
planetário.
Víamos o tremelicar da luz nas veias e o lodo das emoções na ponta dos
dedos. O latejar do tempo na humidade dos lábios.
E a insónia, com seus anéis de luas quebradas e espermas ressequidos.
As estrelas mortas das cidades imaginadas.
Os ossos [tristes] das palavras.
A noite cerca a mão inteligente do homem que possui uma cabeça
transparente.
Em redor dele chove.
Podemos adivinhar uma chuva espessa, negra, plúmbea.
Depois, o homem abre a mão, uma laranja surge, esvoaça.
As cidades (como em todos os livros que li) ardem. Incêndios que
destroem o último coração do sonho.
Mas aquele que se veste com a pele porosa da sua própria escrita olha,
absorto, a laranja.
A queda da laranja provocará o poema?
A laranja voadora é, ou não é, uma laranja imaginada por um louco?
E se a laranja cair? E o poema? E o poema com uma laranja a cair?
E o poema em forma de laranja?
E se eu comer a laranja, estarei a devorar o poema? A ficar louco?
[...]
E a palavra laranja existirá sem a laranja?
E a laranja voará sem a palavra laranja?
E se a laranja se iluminar a partir do seu centro, do seu gomo mais
secreto, e alguém a [esquecer] no meio da noite - servirá [o brilho] da
laranja para iluminar as cidades há muito mortas? E se a laranja se
deslocar no espaço
- mais depressa que o pensamento, e muito mais devagar que a laranja
escrita
- criará uma ordem ou um caos?
O homem que possui uma cabeça de vidro habita o lado de fora das
muralhas da cidade.
Foi escorraçado.
[E] na desolação das terras, noite dentro, vigia os seus próprios sonhos
e pesadelos. Os seus próprios gestos - e um rosto suspenso na solidão.
Onde mora o homem que ousou escrever com a unha na sua alma, no seu
sexo, no seu coração?
E se escreveu laranja no coração, a alma ficará saborosa?
E se escreveu laranja no sexo, o desejo aumentará?
Onde está a vida do homem que escreve, a vida da laranja, a vida do
poema - a Vida, sem mais nada - estará aqui?
No interior do meu corpo? ou muito longe de mim - onde sei que possuo
uma outra razão...e me suicido na tentativa de me transformar em poema
e poder, enfim, circular livremente.
em torquato neto,
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.
em fernando pessoa, carta endereçada a adolfo casais monteiro, em 13 de janeiro de 1935
"Aí por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me à idéia escrever uns poemas de índole pagã. Esbocei umas coisas em verso irregular (não no estilo Álvaro de Campos, mas num estilo de meia regularidade), e abandonei o caso. Esboçara-se-me, contudo, numa penumbra mal urdida, um vago retrato da pessoa que estava a fazer aquilo. (Tinha nascido, sem que eu soubesse, o Ricardo Reis.)
Ano e meio, ou dois anos depois, lembrei-me um dia de fazer uma partida ao Sá-Carneiro – de inventar um poeta bucólico, de espécie complicada, e apresentar-lho, já não me lembro como, em qualquer espécie de realidade. Levei uns dias a elaborar o poeta mas nada consegui. Num dia em que finalmente desistira – foi em 8 de Março de 1914 – arcerquei-me de uma cômoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título, O Guardador de Rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu mestre. Foi essa a sensação imediata que tive. E tanto assim que, escritos que foram essas trinta e tantos poemas, imediatamente peguei noutro papel e escrevi, a fio, também, os seis poemas que constituem a Chuva Oblíqua, de Fernando Pessoa. Imediatamente e totalmente… Foi o regresso de Fernando Pessoa Alberto Caeiro a Fernando Pessoa ele só. Ou melhor, foi a reação de Fernando Pessoa contra a sua inexistência como Alberto Caeiro.
Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir – institiva e subconscientemente – uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome e ajustei-o a si mesmo, porque nessa altura já o via. E, de repente, em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo. Num jato, e à máquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Álvaro de Campos – a Ode com esse nome e o homem com o nome que tem.
Criei, então, uma coterie inexistente. Fixei tudo aquilo em moldes de realidade. Graduei as influências, conheci as amizades, ouvi, dentro de mim, as discussões e as divergências de critérios, e em tudo isto me parece que fui eu, criador de tudo, o menos que ali houve. Parece que tudo se passou independentemente de mim. E parece que assim ainda passa. Se algum dia eu pude publicar a discussão estética entre Ricardo Reis e Álvaro de Campos, verá como eles são diferentes, e como eu não sou nada na matéria." [negritos nossos]
(PESSOA, 1986, pp.96-97).
PESSOA, Fernando. Obras em prosa. Org., intr. e notas Cleonice Berardinelli. Rio de Janeiro: Ed. Nova Aguilar, 1986.
em benveniste,
em rimbaud, carta endereçada à Paul Demeny em 1871
"Car Je est un autre. Si le cuivre s’éveille clairon, il n’y a rien de sa faute. Cela m’est évident: j’assiste à éclosion de ma pensée: je la regarde, je l’écoute: je lance un coup d’archet: la symphonie fait son remuement dans les profondeurs, ou vient d’un bond sur la scène."
EU/ pq. do ibirapuera, são paulo, 13/08/09
em maria gabriela llansol,
"Eu é o outro que vejo em mim. Um lugar não desmultiplicado, uno, amplo, criando sempre maior e mais amplitude, vivendo incansavelmente por dentro da natureza
até trazer à superfície onde se apoia o inteligente deslumbramento que olha o homem novo sentado ao piano."
(O jogo da liberdade da alma, 2003, p. 17).
"O eu como nome é nada"
(Inquérito às quatro confidências - Diário III, 1996, p. 48).
em mário de sá-carneiro,
eu, espelho de céu, reflexo do fundo
email para eduardo jorge, 19/07/09
querido, acho que tudo começou assim: