em eduardo verderame,





EXPO PORTA RETRATOS

Eduardo Verderame, David Magila, Rafael Campos Rocha



Luisa Doria, Fabio Cruz, Carlos Issa, Rafael Coutinho, 




Miriam Lust, Rita Vidal, 

Pirata, Oga, Manuela Eichner, 





Caio Medeiros, Marina Pontieri, Valentina Aires,






Flora Rebollo



r. ministro ferreira alves, 48 (continuação da bartira)
3673 9599

em marcel duchamp,

Rrose Sélavy

em ana bella geiger,

em enrique vila-matas,

"Cansado do eu", começaria dizendo naquela noite, em Sevilha. Mais que isso, afirmaria taxativamente: "Cansado do eu". E passaria a dissertar sobre aquela qualidade tão refinada de Hamlet que consistia em não ter identidade e, menos ainda, um rosto próprio. "A identidade é uma carga pesadíssima, e é preciso se libertar dela", diria entre outras coisas. E recordaria aqueles conselhos de Polônio a Laertes: "Escuta a todos, mas que o tom de tua voz só alguns conheçam, e que ninguém saiba o que pensas; deixa que eles se espraiem. Deixa que os outros falem, permanece em teus abrigos de inverno". (p. 48)

[...]

Por aí começaria meu discurso da cartuxa e veria, depois, por onde acabava. Mas de repente observei que substituir o eu pelo ele era, na realidade, um absurdo simulacro da desaparição do eu. Ou por acaso não me lembrava do que se passou com Roland Barthes quando, depois de escrever sua autobiografia em terceira pessoa acabou, três anos depois, confessando seu desejo, irrefreável  e para ele absolutamente necessário, de voltar a dizer eu? "É o íntimo o que quer falar em mim", escreveu então Barthes, como se tivesse se arrependido da veleidade da terceira pessoa. (p. 58)
(in: Doutor Pasavento, Cosac Naify, 2010)

EU, na propaganda da Oi

quando o lema político "Yes, we can" se transforma (pela manipulação/incorporação capitalista) num slogan publicitário, ressaltando a individualidade do EU, ao ligá-lo ao poder de consumo, "Sim, eu posso", que mundo meu deus, que mundo!

EU/ soledade de minas, fev-2010

Flora Assumpção 
(Fotos e vídeo por Flora Assumpção)

Para ver todas as fotos, clique na imagem abaixo!
EU/ soledade de minas




em danilo bueno,

Somos os poetas de Deus
Somos os poetas do povo
Somos os poetas da crítica
Somos os poetas doutrinários
Somos os poetas eruditos
Somos os poetas modernos
Somos os poetas da tecnologia
Somos os poetas pós-utópicos
Somos os poetas dos estilos históricos
Somos os poetas do real
Somos os poetas da ideologia
Somos os poetas de fim de semana
Somos os poetas canônicos
Somos os poetas de carreira e de gabinete
Somos os poetas das revistas eletrônicas
Somos os poetas sem qualidades
Somos os poetas municipais
Somos os poetas das minorias
Somos os poetas engajados
Somos os poetas das mansardas
Somos os poetas tradutores
Somos os poetas acadêmicos
Somos os poetas malditos
Somos os poetas blogueiros
Somos os poetas dos poetas
Somos os poetas das capelinhas
Somos os poetas contemporâneos
Somos os poetas épicos
Somos os poetas portugueses
Somos os poetas desclassificados
Somos os poetas celebérrimos
Somos os poetas acionistas
Somos os poetas visuais
Somos os poetas da tropicália e do samba
Somos os poetas da poeticidade
Somos os poetas dos galardões e do júri
Somos os poetas do corpo do amor da síncope
Somos os poetas da obra diamantina
Somos os poetas dos banheiros públicos
Somos os poetas visionários
Somos os poetas cosmopolitas
Somos os poetas inéditos
Somos os poetas e seus epitáfios
D'ailleurs, c'est toujours les autres qui meurent
E o mortos e os semivivos e os que logo irão morrer

em ingmar bergman,

em flávia memória,

em flora assumpção,

1o.) um dia na vida

'floooóraaa... [ela diz meu nome cantado]. eu páro um ônibus e não subo. pego o de trás em sua companhia. ela está elegante com seus imensos óculos verdes e leve como sempre. divertida. sagaz.
levanto a cabeça e encontro seu olhar, como o de um ulisses muito pálido, a me olhar. o tempo de fumar um cigarro. um convite para sexta à noite. o sorriso volta a meus olhos cansados.
ele vem caminhando em minha direção e a caminho de nossa casa antiga. largos sorrisos e abraço longo. o tempo de um outro cigarro. e nos vemos após o almoço desta sexta. o sorriso fica nos meus lábios.
livro fechado na mão e corrida pequena para o trem. num quase reflexo a escolha por um vagão me traz você, que eu não vislumbrava há 10 meses, já em pé de fronte a mim. seis estações e descemos. para mim ainda um outro vagão de tantos outros deste dia e para você o céu com todas as nuvens.

e depois agora o que me vem?

um desencontro sem ver navios. quatro encontros fortuitos. um dia como hoje é difícil não crer no destino ou no acaso.


2o.) As águas azuis

primeiro eu nado até a respiração no meio líquido ser o natural para meus pulmões.
daí eu nado até as borbulhas do meu expirar estalarem em meus tímpanos como o som de conchas em corais e porcelana fria.
então eu nado até a fadiga em meus músculos confundir o sopro do vento na água com a correnteza do rio e a força do mar.
por fim eu nado até o cinza fechar o céu e o intenso azul só existir submerso e longínquo. inatingível. etéreo. e até a superfície da água tremular com a primeira chuva que cai.

3o.) Sobre uns dias no mar


o dia se vai cai some é engolido no mar
pelo mar 
meus olhos aprendem apreendem desenham ganham espaço: aqui a velocidade é outra 
o tempo perdido entre as ondas: o tempo entre as ondas

viver é entre as ondas 
é aqui que você vive.

o dia nasce entre as ondas
e eu permaneço ainda aqui 
o sal é nos olhos.

no mar o centro do abdômem é outro
o giro dos ombros
a força do quadril
o porquê da perna 
águas profundas de dança
o tempo da dança é outro 
o balanço é do mar
a capoeira é no mar
a ginga da água é o mar 
no mar o tempo é outro
no mar o som é espaço
o espaço é som e tempo
o mar 
o sal é dos olhos.


['você sempre vai me encontar nas aguas do matadeiro e na ilha.'
'eu vou estar sempre aqui na armação.' 
'marinheiro marinheiro 
quem te ensinou a navegar
foi o tombo do navio
foi o balanço do mar']

-------------------------

pálpebras amolecidas de sol
cílios ferventes descobrem cores adulteradas ofuscadas
corpo lasso d'água curtido de sol vertendo sal
vento sonoro soprando surdo em águas caudalosas

-------------------------


eu quero passar. eu não quero ficar.


o mar. o mar. o mar. o mar. o mar. o mar. passou. já era. se foi. 



4o.) Sobre a nossa terra casa

a solidão é só daqueles que você ama.

um relicário imenso. um relicário deste amor.



o som seco das gotas nas folhas das bananeiras molha o ar fresco na penumbra do dia que finda e na penunbra do céu brusco. 


a água da chuva olha molha tudo que olha molha
não há onde sentar.
eu me descanso de cócoras.
eu queria poder desaparecer na penumbra da mata pra poder guardar este momento pra sempre e não haver mais nada. 
daí eu ouço uma voz cantando como a sua e eu vejo um vulto se aproximando ao longe e ele se parece com você.
e minhas pernas e pés adormecidos e agulhantes somados à escuridão e ao chuvisco me mandam de volta pra nossa casa de encontro a sua voz. 

eu calcei suas enormes e desajeitadas botas de borracha preta, meu irmão
e caminhei por nossa terra agora em charco pelas chuvas
escutei o rosnado feroz do girar das asas do beija-flor veloz
aprendi o som do sopro que chama por grandes borboletas azuis 
guardada pela abóbada de rendada folhagem verde de formigas e picões contra a névoa macia do céu brusco
vi os líquens-borboletas me rodearem planando leve 
eu quis ver de perto as águas do córrego correrem fugirem no seu murmurio opulento
no seu silêncio eu ouço as gotas d'água caírem no solo e nas folhas 
eu fui vencida pelo afundar do solo pantanoso
mas eu trago a você, minha bela irmã, as flores-garças que alcancei mais longe 
[lírios-garças são os meus preferidos]
seu perfume me inunda com sua beleza. 
e me conforta [quando estou longe daqui] 
eu vi no solo os frutos apodrecidos pela umidade e o vigor abundante das plantas
eu senti a agulha inesperada do espinho mergulhar em meus dedos
e escutei o silêncio do farfalhar das águas invadido por duas violas solitárias melodias
e quando a escuridao absorveu a luz de meus olhos eu retornei a nossa casa.

-------------------------







































Flora Assumpção. O Mar do Tempo Perdido, 2007. Gravura em metal (ponta seca). 100x200cm. Documentação da exposição no Paço das Artes, 2007/2008.



em raul seixas,

para aqueles que sempre pedem: toca raul!

EU/ dinamarca, dez-2009














Eduardo Verderame enviou o EU direto de Copenhagen,
sua segunda cidade natal, onde esteve investigando 
a lenda do monstro do Lago Ness e sua relação com
a máfia dos salmões cor de rosa voadores

em beck,




LOSER


In the time of chimpanzees I was a monkey
Butane in my veins so I'm out to cut the junkie
With the plastic eyeballs, spray paint the vegetables
Dog food stalls with the beefcake pantyhose
Kill the headlights and put it in neutral
Stock car flamin with a loser and the cruise control
Baby's in Reno with the vitamin D
Got a couple of couches sleep on the love seat
Someone keeps sayin I'm insane to complain
About a shotgun wedding and a stain on my shirt
Don't believe everything that you breathe
You get a parking violation and a maggot on your sleeve
So shave your face with some mace in the dark
Savin all your food stamps and burnin' down the trailer park
Yo cut it

Soy un perdedor
I'm a loser baby, so why don't you kill me?
Double-barrel buckshot

Forces of evil in a bozo nightmare
Banned all the music with a phony gas chamber
'Cause one's got a weasel and the other's got a flag
One's got on the pole shove the other in a bag
With the rerun shows and the cocaine nose job
The daytime crap with the folksinger slop
He hung himself with a guitar string
Slap the turkey neck and it's hangin on a pigeon wing
You can't write if you can't relate
Trade the cash for the beef for the body for the hate
And my time is a piece of wax fallin on a termite
Who's chokin on the splinters

Soy un perdedor
I'm a loser baby so why don't you kill me?
Get crazy with the Cheeze Whiz
Soy un perdidor
I'm a loser baby so why don't you kill me?
Drive-by body pierce
Yo bring it on down
Soy

I'm a driver I'm a winner things are gonna change I can feel it
I can't believe you

Sprechen sie Deutches, baby

Know what I'm sayin? 

em woody allen,




p.s, olha a dancinha do camaleão!

em renan nuernberger,

HORÁRIO DE VERÃO
lembrança de uma tarde em Recife

os prédios e pontes
escondem
                        o ocaso,
recife ante estrelas
(ainda entre-ocultas)

a lua
                     / como baleia ou
navio pegando fogo
na costa-horizonte do
oceano (oceano, no atlas,
atlântico)
convida à explosão
              de cores
laranja bronze ouro –
e ao delírio de não-ser
(talvez seja o álcool!)
mais nada além do sol
sossego, sossego, sossego
brisa /
                               a lua,
fora de
seu tempo, queima-se

                    : eu-sôfrego?